José Eduardo Agualusa, escritor africano, de Angola.
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O Nação Crioula foi o último
navio negreiro a fazer a travessia do Atlântico, portando em seus porões os
negros que serviriam de escravos no Brasil. O tráfico de africanos era um
verdadeiro atentando contra os direitos
humanos. Durante as longas viagens
marítimas poucos resistiam às condições miseráveis, às moléstias e aos
açoites a que eram submetidos, sabe-se que poucos dias após o embarque, os
corpos começavam a se amontoar, e os devaneios dos que sobreviviam eram tantos que começavam a matar uns aos outros e a si mesmos.
Esta obra de Agualusa é antes de
tudo uma estória de escravidão, não apenas dos que foram escravizados, mas dos
que escravizaram.
Fradique
Mendes é o personagem principal, que narra através de cartas, suas andanças,
aventuras e sua paixão por Ana Olímpia, uma mulata de Angola, filha de uma
escrava com um escravocrata e viúva de um rico traficante de negros que era
adepto dos movimentos abolicionistas. Ana Olímpia irá se fazer presente no
pensamento de Fradique desde quando ele a conhece e será destinatária de várias
correspondências. Ele também escreverá a sua Madrinha madame Jouarre, e a seu
amigo Eça de Queirós.
Embora
Nação Crioula seja uma obra fictícia, ela nos remete muito realmente a
realidade do século XIX, de modo que figuras reais da história do Brasil aparecem, por exemplo, o importante
abolicionista brasileiro, José do Patrocínio. Vale ressaltar que Fradique Medes
é um personagem criado anos antes por Eça de Queirós e reaparece neste romance,
tornando-o um livro recheado de intertextualidade.
É
notável a crítica destinada a aristocracia. José Eduardo Agualusa aborda de maneira extremamente poética a questão social de Angola, Portugal e
Brasil, expõe o modo de pensar de uma sociedade hipócrita, de maneira que quem estava
sob as correntes e selas não eram os prisioneiros, escravos sim, mas livres,
porque tinham uma liberdade que seus escravizadores nunca a teriam, a
liberdade de espírito.
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