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14/06/2014

Pedagogia do discriminado



A gente precisa
marginalizar a educação
pra educar o marginal.
Literatura nas favelas
em vez de policial.

Assaltar à mão armada com poesia
em tudo que é beco e viela
até viciar cada criança dia após dia.

A gente precisa
poetizar a monotonia
e "monotizar" a poesia.

Crime?
Só o de subversão.
Paz?
Só depois da confusão.

Que ao revistarem nossas mochilas
somente livros venham ao chão.
E pela primeira vez nossas armas
as deles abaterão.

Que as prisões venham à falência,
que a violência seja no sarau.

Que a turma da boca
abra a boca
e rasgue o verbo
com a língua de punhal.

Que o menino franzino
e preto cause medo
pelo perigo que é transportar
no bolso do calção desbotado
algum verso clandestino
num papel amassado. 

A gente precisa
tirar a escola das salas de aulas
e fazer de sala de aula qualquer calçada.

Que a pele queimada
pelo sol quente
do menino sem camisa
possa ser sua farda
e que a única exigência
seja seu riso gratuito.

Mãos pra o alto.
Calma, leitor.
Isso não é um assalto.
É apenas um aluno
com dúvida no assunto
perguntando ao professor.

(Eliano Silva)


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